Museus: dicas de como aproveitar ao máximo esses espaços culturais

Seja qual for a cidade que eu vá, sempre busco reservar um tempo para ir nos principais museus locais — ou então naquele nem tão famoso, mas que calha de mostrar aquilo que me interessa. Pode parecer bobagem, mas depois dessas décadas como turista, consigo traçar alguns mecanismos para evitar cair em uma roubada.

 
 

A primeira dica que eu dou é começar o planejamento antes mesmo de sair de casa. É no aconchego do lar que você pode pesquisar nos sites de buscas sobre todos os museus existentes na rota que você traçou. Veja no mapa onde eles se situam. Dá uma raiva chegar no fim do dia no hotel e se dar conta que você passou a poucas quadras do museu com uma mostra especial de seu artistas favorito.

E comprar o ingresso com antecedência ou não? Aí vai de cada um, há prós e contras. Se você é do tipo bem organizado e que planeja tudo, adquirir online antes pode ser uma vantagem. Fiz isso algumas vezes e evitei longas filas, algumas delas expostas ao sol torrencial.

Uma coisa que eu acho fundamental é ver se o museu de sua escolha vai estar aberto no período em que estiver na cidade. Em uma rápida passagem por Florença, no ano novo, não pude visitar o famoso Uffizi pois a visita coincidiu com feriados nacionais seguidos por uma segunda-feira, dia que tradicionalmente os museus fecham (atenção: alguns escolhem outros dias da semana para fechar).

Mas pior foi em Oslo, na Noruega. Coloquei a cidade no roteiro única e exclusivamente para visitar o museu dedicado ao pintor Edvard Munch. Pois chegando lá dei com as portas fechadas na cara, literalmente. E o pior: o espaço estava fechado para visitas pois estava acabando de montar uma exposição comemorativa, com uma grande retrospectiva sobre a vida do norueguês. E que abriria um dia depois de minha partida para o Brasil. Imaginem a raiva. Se eu tivesse checado na internet antes de comprar as passagens aéreas teria colocado dois dias a mais na cidade, só para visitar o Munch Museum. Pensei até em mudar as datas da volta, mas o preço da multa era proibitivo. Uma curiosidade: no dia que eu e meu marido fomos no museu fechado, um repórter de um jornal local estava fazendo uma matéria sobre a exposição que seria inaugurada. Acabou entrevistando o brasileiro que veio de longe e se frustrou.

 

Eu vendo eu mesmo no jornal norueguês. Sem entender nada. Férias frustradas

 

Uma outra dica preciosa eu coloquei em ação em outubro passado, em Madri. Na véspera de nossa visita ao Prado, eu e meus amigos, munidos de nossas taças de vinho barato e bom, fomos vendo na internet algumas das obras lá expostas. E fizemos uma enorme lista com o que queríamos ver. Chegando lá, pegamos o mapa com todas as salas e andares estampados (os maiores museus oferecem gratuitamente na entrada, em vários idiomas). De lá, fomos pra cafeteria, e com nossas boas xícaras de café fomos assinalando com uma caneta as salas onde estavam os quadros previamente selecionados.

Foi a primeira vez que fiz isso. E achei ótimo. Achei que estranharia tamanha objetividade, mas foi maravilhoso. O meu “eu” de 20 e poucos anos amava “se perder pelos labirintos”, apreciar obra por obra. Já cheguei a ficar quase sete horas no Louvre, em Paris. Mas o meu “eu” no Prado adorou economizar tempo e, sobretudo, energia vital. Mesmo com esse esquema resumido, levamos duas horas lá. Se ficássemos mais tempo teríamos visto mais coisas, todas certamente interessantes. Mas e a sola do pé? E o cansaço físico e mental (chega um momento que tanta informação faz o cérebro fritar)? E a taça de vinho esperando no bar da esquina?

E essa dica não precisa nem ser seguida a ferro e fogo. No Prado, era um tal de dar um “check” no mapa e correr pra sala seguinte, pulando um monte de sala lotada cujo teor jamais saberemos. Assim, garantimos “saco” e “energia” para admirar bem e comentar aquele quadro ou autor que havíamos escolhido ver. E saímos do Prado felizes e realizados. Mas você não precisa pré-selecionar as obras específicas como fizemos. Pode escolher que períodos da história vai ver. Tipo “quero ver as múmias, as estátuas romanas, a arte bizantina e a Monalisa”, por exemplo. Pois edite seu tour mesmo, sem medo. Ninguém vai fazer uma sabatina no final do percurso.

 
 

E como eu falei lá em cima sobre café, recomendo atenção especial para a alimentação e hidratação. Não só pela maratona que é ver um grande museu mas também pelos preços caros cobrados pelas lanchonetes lá dentro. E a maioria dos espaços não permite a entrada de garrafas de água, provavelmente temendo vandalismo. Sobre roupas e calçados, o melhor é ir bem confortável. Ninguém merece andar por alas e mais alas usando um sapato apertado. Pode parecer dica básica, mas queria que alguém tivesse me dito que All Stars são lindos, mas não muito propícios para longas empreitadas culturais.

Ah, e cuidado com os horários na internet. O Google nem sempre acerta o fechamento (e podem ocorrer mudanças de última hora que o site não capta). Outra pegadinha é horário de fechamento e “última entrada”. É importante estar atento a este detalhe. Geralmente os sites dos museus informam que horas ele fecha (ou seja, todo mundo pra fora) e a hora que a entrada se encerra. Por exemplo: um museu pode fechar às 20h, mas a última entrada ocorrer 19h. E não adianta chegar 19h01 e implorar pra ser admitido. Os seguranças costumam ser implacáveis.

Tá com orçamento da viagem apertado? A maioria dos museus oferece visitas gratuitas em determinados dias. Ou horários (geralmente quando faltam poucas horas para fechar). Vale a pena pegar as informações nos sites oficiais.

Audioguia? Aí depende de seu estilo. Já fui muito fã. Hoje prefiro ir livre ao vento, só no feeling. Inclusive muitas vezes exercito o olhar para primeiro admirar a obra e depois ver o nome da obra e o autor. Anos atrás li uma matéria na Folha de S.Paulo cujo autor sugeria justamente esse aproach com os quadros. Creio até que ele ou ela era contra as informações adicionais que costumam colocar ao lado de cada pintura, pois estas notas poderiam influenciar a fruição. Não lembro bem o motivo, mas para mim faz todo sentido. Acho que muitas vezes nosso olhar é contaminado ao sabermos de antemão quem pintou o que, o que ele buscou transmitir etc. Muitas vezes, o olhar basta, pelo menos é o que eu acredito.

Uma dica importante que reparei ao longo de minha jornada. Sabe os monitores que ficam nas salas, observando tudo que acontece? Pois eles adoram dar informações bacanas. Onde está aquele Miró? E o Picasso da fase azul? Uma vez, no MASP, em São Paulo, o monitor se levantou e me levou até o quadro que eu estava procurando, quase na outra ponta do espaço. Eu tenho uma teoria: eles e elas costumam enfrentar o ócio em longas jornadas só olhando o pessoal que passa, então não perdem uma oportunidade de interagir com um ser humano. Mas isso é teoria minha. Eu e minhas “viagens”.

E pra quem é soteropolitano como eu ou está pela capital baiana, fica a dica: o Guia de Museus (clica aqui). Sempre bom valorizar a prata da casa (amo essa expressão).

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