Panicado's anatomy: quando o medo de voar precisa de ajuda médica

No começo de meu pânico de voar, quando nem eu mesmo entendia muito bem o que estava acontecendo comigo (um cara que ama aviação com medo de voar? Como assim?) as coisas eram bem piores na minha vida de viajante, por motivos de trabalho ou férias. Mas depois que eu vi que a psiquiatria poderia ser uma forte aliada minha, tudo mudou. Com meus remédios, viajo bem mais tranquilo. E a medicina pode ajudar outros panicados e panicadas.

 
Tá na hora de cancelar aquele seriado looooooongo chamado "Medo de Voar", não? Talvez um médico possa te ajudar

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Segundo a psiquiatra Milena Pondé, nem todo medo é igual ao outro. “Cada pessoa tem as suas razões para ter medo: algumas em função do medo de altura, outras por medo de lugar fechado, outras que já viveram alguma situação de turbulência e tem medo de voltar a acontecer, outras por medo de passar mal e não ter como escapar para receber ajuda”, afirma. O psiquiatra Esdras Cabus explica ainda que o medo de voar geralmente envolve uma ansiedade por antecipação: alguns evitam qualquer planejamento de viagem que envolva aviões. “Geralmente, são sintomas parecidos, com casos de experiência de ansiedade antecipatória, mas também histórico de terem experimentado ansiedade súbita durante o vôo ou imediatamente após o fechamento das portas do avião”, afirma Esdras.

Para o psiquiatra Geilson Santana, a principal estratégia terapêutica é a psicoterapia e a medicação, que nesses casos pode facilitar a compreensão do medo. “O objetivo principal é o enfrentamento e, para isso, lançamos mão de uma estratégia chamada exposição gradual: a pessoa vai, aos poucos, se expondo mais e mais à situação temida com um controle progressivo dos seus sintomas. Outras estratégias também são muito úteis, como o mapeamento dos pensamentos distorcidos em relação ao medo de voar - por exemplo, ideias catastróficas de que algo muito ruim vai acontecer, de que ocorrerá algum acidente ou que vai passar muito mal caso entre em um avião”, afirma Geilson. Nem sempre é possível chegar ao cerne do medo. Mas isso não importa muito. “Como a terapia cognitivo comportamental se mostra mais eficaz para os quadros de ansiedade fóbica, o objetivo é trabalhar as reações de ansiedade diante da situação e as crenças relacionadas ao objeto fóbico. Não é objetivo ‘revelar uma causa’. Mesmo sem identificarmos o motivo específico, podemos chegar a um controle dos sintomas”, pontua Esdras.

Além disso, para enfrentar o medo, existem técnicas de respiração, meditação e outros métodos que são aprendidos, por exemplo, no tratamento com terapia cognitivo comportamental, explica Milena. Ela dá uma dica que pode ser preciosa em casos de pânico no ar: tentar visualizar um triângulo no espaço entre os dois olhos e fixar a atenção neste triângulo. Geilson acrescenta ainda que, no meio do voo, caso o paciente tenha alguma crise, o mais recomendado é que seja reassegurado que tudo vai dar certo, que aquele medo é uma reação de alarme exagerada do seu cérebro e que não há motivo concreto para se desesperar. Também ajuda muito prestar atenção na própria respiração e tentar respirar profunda e lentamente. “Importante também tentar relaxar e se distrair, além de evitar o consumo de cafeína ou de álcool”, ressalta Geilson.

Mas é claro que um remedinho pode fazer toda a diferença na vida de quem tem pânico de voar. “Pontualmente, é comum a prescrição de ansiolíticos, que devem ser utilizado nas horas que antecedem o voo e durante o voo. Em muitos casos, são suficientes para que a pessoa consiga embarcar. Em alguns casos em que a pessoa apresenta transtorno de ansiedade generalizada ou transtorno depressivo, o tratamento desses transtornos com antidepressivo, melhora, secundariamente, a fobia de viagem de avião. Mas sempre é importante tentarmos o encaminhamento para psicoterapia cognitivo comportamental, que tenta a redução dos sintomas. Tais intervenções podem ou não ser acompanhadas de intervenção psicofarmacológica”, aponta Esdras.

 
Talvez seja o caso de dar uma passadinha no médico antes da sua próxima viagem

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Todos os profissionais são unânimes ao apontar os perigos da auto-medicação ou da mistura de remédios com bebidas alcoólicas. Como estamos falando de avião, a combinação de tranquilizantes com álcool pode gerar sonolência excessiva, mas pode causar também agitação e agressividade em passageiros. “É comum a queixa entre tripulantes de agressões por parte dos passageiros que usaram tranquilizantes com álcool e ficaram com alteração da consciência”, afirma Milena. O principal risco é de o álcool potencializar o efeito dos medicamentos, aumentando o risco de efeitos colaterais como comprometimento da coordenação motora, desatenção, sedação ou mesmo depressão respiratória e até mesmo morte do passageiro, relata Geilson. Ele ressalta ainda a busca por ajuda profissional. “A auto-medicação é uma situação, infelizmente, muito comum. Seja o uso de medicamentos dados por familiares ou amigos, seja a aquisição de remédios no mercado paralelo ou mesmo o uso de álcool como uma forma de automedicação”, diz. 

Portanto, panicadas e panicados, saibam que existe ajuda profissional pro nosso medo de voar. Que tal procurar um médico?