Viagem com idosos: dicas para uma boa experiência para todos

A ideia de escrever essa matéria surgiu da viagem que vou fazer (e que começa hoje, por sinal) com minha mãe para a Europa. Já viajei com ela algumas vezes e fui aprendendo uma coisa ou outra ao longo da estrada. Adotando pequenas medidas é possível tornar a experiência interessante para todos e todas.

 

Eu (Salvatore Carrozzo, autor deste site) com minha mãe Adelaide durante visita a Brasília, em julho de 2023

 

Resumidamente, conto nosso itinerário. Vamos para a Puglia, região italiana de origem de minha família paterna. Depois, três dias em Lisboa.

A principal coisa que devemos ter em mente caso formos viajar com alguém da terceira idade é que devemos nos adaptar às necessidades da pessoa, e não o contrário. Eu mesmo odeio acordar cedo, mas como minha mãe sai da cama antes das 5h já estou ciente de que meu despertador deverá ser colocado para tocar umas horas antes do normal.

O ideal é programar o máximo possível a viagem. E, se possível, calcular mais tempo para cada cidade visitada, uma vez que o ritmo dos mais velhos costuma (não sempre, é claro) ser mais lento que o dos jovens. Seja qual for a idade do viajante, eu acho uma loucura separar um dia ou dois para cada lugar visitado. E não só por ter menos tempo para ver tudo com calma. Deslocamentos costumam ser cansativos para todos e todas. Quando temos uma “bagagem extra" na mochila da vida, o exaustivo circuito aeroporto—voo—traslado—check in fica ainda mais puxado. Lógico que cada caso é único e conversar sobre as expectativas e limitações dos que irão viajar é fundamental.

 

Minha mãe em 2018 com a famosa mochila cheia de pins de países por onde já passou (E) e brindando com a neta em Brasília em julho de 2023 (D)

 

Vamos “começar do começo”. Iremos viajar com a Air Europa no trecho Salvador — Madri. São 8h30 de voo. Julgamos que seria melhor pagar a mais e viajar com mais conforto na Premium Economy. Esta classe é uma intermediária entre a executiva e a econômica. Cada vez mais ofertada pelas companhias aéreas, é muito procurada por passageiros cansados do aperto e desconforto. Oferece mais espaço para pernas, assentos mais largos e confortáveis e uma reclinação maior. Ainda não viajei, mas só pelas fotos no site da companhia acho que vai valer cada centavo. A passagem ficou uns 50% mais cara. Mas viajar na econômica para minha mãe por um período prolongado seria sacrificante demais.

Uma coisa que chequei com as três companhias nas quais vamos viajar (Air Europa, Ryanair e Easyjet): é possível sim embarcar com bengala. E já na compra das passagens foi possível solicitar o auxílio de cadeira de rodas para levar o passageiro com dificuldade de locomoção até a porta do avião e depois ter algum funcionário esperando no desembarque. Já testamos com a Gol e Latam aqui no Brasil e super funcionou. Como minha mãe sente dores ao caminhar muito, é ótimo ter esse serviço, gratuito, por sinal.

 

Eu, minha mãe e uma amiga (igualmente amante de viagens) em frente ao Museu de Arte de São Paulo (MASP), em abril de 2023

 

Uma outra sugestão é escolher, sempre que possível, a primeira fileira. Tem de pagar a mais, mas é ótimo por vários motivos. Um deles é a facilidade para entrar e sair da aeronave — a tripulação sempre dá prioridade para minha mãe nesses momentos, que costumam ser estressantes. Outro fator importante é ter mais espaço para pernas, o que dá mais conforto ao passageiro da terceira idade e deixa o processo de se levantar e se sentar mais fácil. Tais assentos também são mais próximos dos banheiros, o que é bem conveniente, além de sempre ter uma comissária ou comissário por perto para algum auxílio.

Como minha mãe sempre precisa de almofadas para encontrar uma posição boa para ficar sentada, vou rezando para que o voo daqui para a Espanha esteja meio vazio, de modo a pedir uns travesseiros (minúsculos, eu sei) que estejam sobrando. Em todo caso, vou levar na mão os dois casacos mais pesados com os quais vou viajar. Assim, se o avião estiver cheio, posso improvisar um apoio para a coluna de minha mãe com eles.

Por falar em mala, é muito importante levar na bagagem de mão todos os remédios. Já pensou colocar o material na mala despachada e ela ser extraviada? E sempre bom não levar a conta justa de comprimidos necessários para os dias fora de casa. Sempre podem ocorrer imprevistos, como voos de volta cancelados — já aconteceu comigo. Eu sou exagerado e sempre levo o suficiente para uma semana a mais (melhor pecar pelo excesso). Minha mãe é ótima de cálculo, mas alguns idosos podem precisar de ajuda na hora de selecionar a quantidade a ser levada. Alguns países recomendam que sejam levadas cartas em inglês do médico relatando sobre o uso das substâncias. Eu costumava fazer isso, mas depois de vários voos sem ninguém me pedir nada confesso que abandonei o hábito (atualização: acabei pedindo a carta à médica). Nunca se sabe, né?

 

Minha mãe em Varanasi, na Índia, em 2015

 

E, seja qual for a idade, nunca é demais levar os remédios básicos em casos de emergência, como comprimidos para dor de cabeça, enjoo, antigripais etc. Minha mãe mesmo não vive sem sal de frutas. Já pensou sair de madrugada atrás de um, em um país estrangeiro, em caso de emergência digestiva? Melhor evitar.

Ainda no quesito “mala”. Idosos costumam sentir mais frio, sobretudo nas extremidades (era assim com meu pai e é assim com minha mãe). Então, deixe separadas umas meias de lã (e luvas, a depender da estação), mesmo que a meteorologia indique temperaturas não tão frias. Nunca se sabe se o tempo vai mudar. E mesmo que o destino seja de temperaturas quentes, o interior de um avião pode atingir “clima polar”. Por fim, opte sempre por “viajar leve”. Afinal, muitas vezes você terá de carregar sua bagagem e da pessoa com quem você está viajando.

Eu amo usar metrô e trens, inclusive para chegar e sair dos aeroportos. Mas com minha mãe vou focar em táxi. Nem todas as estações metroviárias e ferroviárias possuem escadas rolantes ou elevadores. Fora que é sempre possível ter o azar de pegar um vagão cheio. Se no orçamento couber, acho que chamar um táxi ou uber é um investimento válido.

 

Em 2012, Adelaide visitou o Japão. Na foto ela aparece envolvida pelas famosas flores de uma cerejeira em Tóquio

 

Para essa viagem, deixamos os Airbnbs de lado e escolhemos hotéis. São mais caro, é verdade, mas em geral possuem recepção 24h (alguns mais baratos na Europa não contam com essa facilidade, bom frisar). E ter alguém do local em qualquer hora do dia ou da noite sempre facilita. Antes de concluir a reserva, mandei mensagens checando se o hotel possuía estacionamento próprio, elevador e duchas sem banheira (é bom comum encontrar chuveiros dentro de banheira, um perigo para pessoas idosas).

Por falar em hotéis, em nossa conexão espanhola vamos ficar em um dentro do aeroporto de Barajas, em Madri, pois entre a chegada do voo vindo do Brasil e a decolagem para Brindisi, na Itália, serão mais de 8h de espera. Obviamente não ia deixar minha mãe desconfortável em uma cadeira de plástico do terminal esse tempo todo. Muitos aeroportos oferecem hotéis (caros, infelizmente) para curtos períodos. Mas são limpos, seguros e oferecem banheiros com duchas. Outra opção são salas vips, algumas com quartos para descanso e até chuveiros. E não precisa necessariamente viajar de executiva ou primeira classe para usufruir delas. Algumas aceitam também clientes de cartões de crédito mais chiques. Outras também deixam o público ter acesso após pagamento de uma taxa. Vale a pena ficar de olho.

 

Minha mãe durante uma viagem que fiz com ela ao Peru em 2009 — na imagem ela está toda contente em Machu Picchu (saía correndo pelos caminhos estreitos, feliz da vida)

 

Sobre seguro saúde, nem vou dizer o quão importante ele é. Já pensou quebrar um braço no exterior e não ter assistência internacional? Muitas vezes o cartão de crédito com o qual você compra as passagens oferece o benefício gratuitamente. Caso contrário, sugiro muito uma busca na internet e contratar os serviços de alguma empresa renomada (no site Reclame Aqui dá para avaliar a seriedade da companhia) e que caiba em seu bolso.

Para terminar, um detalhe precioso: sempre que estiver viajando, certifique-se que seu parceiro de viagem da terceira idade esteja levando a cópia do documento (atenção com bolsas e passaportes originais nas ruas, sobretudo pontos turísticos) e também a relação de todos os hotéis nas cidades por onde vão passar, incluindo nome, endereço, instruções sobre como chegar e telefone. Já pensou se perder e ficar desorientado ou desorientada em uma cidade estranha? Meu marido me chama de exagerado, mas nessas horas é melhor redobrar a atenção.

Parece muita coisa, eu sei. Mas no fundo são pequenos detalhes que, sendo seguidos à risca, podem proporcionar uma viagem mais prazerosa e menos estressante para o idoso e quem o acompanha.

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