Você sabe como vai a saúde da companhia que escolheu para viajar?

Na hora de viajar, tranquilidade é um quesito que levo muito em consideração, sobretudo em virtude da minha condição de panicado. Evito, por exemplo, conexões com tempo de espera muito curto, para não ficar sofrendo com o “será que vou conseguir chegar a tempo de embarcar no próximo voo?”. Um outro ponto ao qual dedico uma análise é a situação da empresa, se ela vai bem das pernas ou não. E eu pergunto a você, cara leitora, caro leitor: você presta atenção em como anda a saúde financeira da companhia aérea que apareceu como opção de voo no trecho que deseja fazer? Pois te digo: é bom ficar com os dois olhos bem abertos.

Como já disse, quando viajo gosto de minimizar estresse. Imagina comprar uma passagem aérea com meses (ou mesmo dias) de antecedência e descobrir, só no aeroporto, que a empresa anda mal das pernas e cancelou o seu (ou todos) os voos? Nesses casos, a cena se repete: filas intermináveis nos balcões, todo mundo lutando para conseguir ser realocado em outra companhia. Imagina ter de brigar pra voar? Eu brigo pra não voar! Brincadeiras à parte, eu ia ficar muito nervoso em uma situação dessa. Certamente pensaria coisas como “será que é o destino mandando eu não embarcar?”. Caso conseguisse ser realocado em outro voo da mesma empresa, as dúvidas não cessariam. Afinal, se a companhia está falindo, será que está pagando seus pilotos e técnicos de manutenção? Será que eles estão fazendo seus trabalhos de forma profissional ou apenas empurrando com a barriga? Socorro!

 
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Lógico que muitas vezes a divulgação da falência pega todos de supresa, mas muitas vezes é uma crônica de uma morte anunciada. Então, antes de comprar uma passagem, sugiro um passo simples: pesquisar o nome da empresa no Google Notícias e ver se há reportagens em veículos de relevância nacional ou internacional sobre a companhia e se elas estão ligadas à saúde financeira da empresa.

Vejam o exemplo da Alitalia, companhia aérea de bandeira da Itália. Em uma pesquisa simples sobre ela no Google é possível descobrir que, em dezembro passado, o Ministro da Economia italiano, Stefano Patuanelli, anunciou um último empréstimo de €400 milhões e que novos aportes de dinheiro não serão feitos. Ou seja, a Alitalia, que não apresenta lucros desde 2002 e perde atualmente cerca de €2 milhões por dia, teria sua vida garantida, a princípio, só até junho próximo. Ou encontra um comprador ou terá de fechar as portas.

Agora te pergunto: você arriscaria e compraria uma passagem aérea na empresa para julho ou outro mês mais adiante? Eu passaria longe. Fiz agora uma busca por bilhetes aéreos no trecho Rio de Janeiro–Roma e lá estavam as passagens bem belas, prontas para serem compradas. Pode ser um péssimo negócio. Tudo pode mudar nos próximos meses? Claro que sim. Mas continuando no Google, achei uma notícia mais recente, da semana passada, reportando que a Lufthansa e a ferrovia estatal italiana Ferrovie dello Stato, que já foram consideradas como possibilidade de salvação da Alitalia, não estão mais interessadas em fazer investimentos. Sobre a situação, o ministro do Desenvolvimento Econômico, Stefano Patuanelli, resumiu: “Estamos em uma estrada estreita e difícil”.

 
Airbus da Alitalia decolando do aeroporto de Fiumicino, em Roma. Companhia pode ter de encerrar atividades em 2020. Crédito: Eric Salard

Airbus da Alitalia decolando do aeroporto de Fiumicino, em Roma. Companhia pode ter de encerrar atividades em 2020. Crédito: Eric Salard

 

E casos de empresas falindo e deixando de voar não são assim raros, inclusive aqui no Brasil. Quem não se lembra dos imbróglios envolvendo a Varig, a Vasp e a Transbrasil, apenas para elencar aquelas que pararam atividades nas últimas décadas? Ou da Avianca Brasil, que tinha 13,4% do mercado nacional e deixou de voar em 2019? Esta última faz parte de uma lista mundial que conta com 26 empresas que faliram no ano passado, em levantamento feito pelo blog Todos a Bordo, do portal UOL. A relação inclui nomes que tinham grande relevância no cenário mundial, como Germania, Thomas Cook, WOW Air e Jet Airways (segunda maior da Índia, com frota de 130 aviões).

O blog relembra os últimos passos da Avianca Brasil, que entrou com pedido de recuperação judicial em dezembro de 2018. Em maio, a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) suspendeu todos os voos. E, em dezembro, a administradora judicial Alvarez & Masal recomendou à Justiça a decretação da falência. O processo aguarda julgamento.

Sabendo que a Avianca Brasil estava mal das pernas, quem compraria uma passagem dela? Resposta: minha sobrinha (casa de ferreiro, espeto de pau, já diz o ditado). Em janeiro do ano passado ela comprou uma passagem ida e volta Salvador–Rio de Janeiro para abril. O tempo passava e as notícias ruins para os passageiros pipocavam na internet. Para alívio de minha sobrinha, quando chegou na semana dela viajar, quase todos os voos tinham sido cancelados, sendo mantidos os serviços apenas entre quatro cidades: Brasília, São Paulo… Rio de Janeiro e Salvador.

A ida foi tranquila, mas a volta foi cheia de emoção. Ela queria ter a certeza que o voo estava confirmado, porém os telefones da empresa não atendiam (estavam sobrecarregados de ligações ou então a empresa cortou a comunicação mesmo). Depois de idas e vindas ao aeroporto carioca e rejeitando opções como voltar depois de quatro dias do programado, ela conseguiu embarcar (eu já teria desistindo e comprado uma passagem de ônibus). E ela deu sorte. No mês seguinte a Anac suspendeu os voos da Avianca Brasil. Mas muita gente se deu mal nessa. Em uma busca por queixas de clientes da Avianca no site especializado Reclame Aqui é possível ver uma chuva de relatos, muitos deles denunciando a empresa por ainda não ter feito a devolução do dinheiro de passagens em voos não-realizados por conta da quebra da empresa. A Avianca, inclusive, parece estar pouco se importando com as passageiras e passageiros. Nos últimos seis meses não respondeu a nenhuma queixa.

 
Avião da Avianca Brasil no aeroporto Santos Dumont, no Rio. Cidade foi uma das últimas a receber voos da empresa aérea. Crédito: Gustavo H. Braga

Avião da Avianca Brasil no aeroporto Santos Dumont, no Rio. Cidade foi uma das últimas a receber voos da empresa aérea. Crédito: Gustavo H. Braga

 

O cenário internacional também não foi favorável para alguns grandes nomes da aviação comercial. A Thomas Cook era uma companhia aérea ligada à centenária empresa de turismo homônima, fundada há 178 anos e tida como a mais antiga do mundo. A falência da empresa, anunciada em setembro passado, deixou 150 mil turistas na mão, causando a maior operação de resgate de ingleses desde a 2ª Guerra Mundial! Isso dá quase mil aviões de modelos populares como o 737. Foi uma tarefa hercúlea e o fretamento de voos teve de ser organizado às pressas. Aviões de diversos países foram usados para levar os passageiros de volta para a Inglaterra.

No caso da Thomas Cook, o anúncio da falência pegou todo mundo de surpresa. Aí nesse caso é sentar e chorar mesmo. Mas, fica a dica do rivotravel: antes de concluir a próxima compra aérea, dê uma pesquisada para ver como anda a saúde da empresa. Vai que você descobre alguma notícia suspeita envolvendo a companhia. Se doença e viagem são um péssimo casal, imagina quando a parte é a própria dona do avião que vai te transportar. Previna-se!

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