Roma, a cidade do meu amor eterno: um guia de viagem

Não sei vocês, mas eu acho muito difícil escrever sobre aquilo que amo. Parece que as palavras não chegam, não conseguem expressar a verdadeira adoração que tenho por algo ou alguém.

Mas vou tentar. Afinal, escrever é o ofício dos jornalistas, não é? E apesar desse início penoso, prevejo muitas e muitas palavras para descrever meu grande amor: Roma. A capital italiana é minha cidade favorita no mundo. E se outros mundos existirem, creio que continuará sendo a número um em minha alma. Lá morei e espero um dia voltar a ser morador local.

(Relendo agora que terminei de escrever, vejo que esse texto está a dança da Tarantella doida. Então sugiro ir pulando as partes que menos te interessam).

 
Não é à toa que Roma é amor escrito de trás pra frente. Acho a cidade muito romântica e ideal para passeios apaixonados, em qualquer estação

Não é à toa que Roma é amor escrito de trás pra frente. Acho a cidade muito romântica e ideal para passeios apaixonados, em qualquer estação

 

HISTÓRIA

A cidade tem muita (mas muita mesmo) história. Não é a toa que ela caminha para os 2.800 anos de vida. Se Roma está em seus planos de viagem, mesmo que só nos sonhos, digo: parabéns. Fez uma ótima escolha. Mas ela requer certo esforço. Não vou detalhar aqui a história romana justamente por sua extensão. Acho importante dar uma lida, mesmo que breve, sobre sua história, desde sua fundação até os dias atuais, para entender um pouco suas diversas fases: a Roma pré-República e seus sete reis, a republicana, a imperial, a Roma paleocristã, o declínio do império com a invasão dos povos bárbaros, o surgimento do papado, a Roma medieval e renascentista, culminando com a Roma barroca. Existem vários links na internet com resumos da história da cidade. Isso ajuda a situar a cidade na linha do tempo e a viagem acaba sendo mais proveitosa e interessante. É bom também para planejar e maximizar a visita, porque são muitas coisas para ver.

Conhecer a história de Roma ajuda ainda a minimizar o efeito da frustração de muitos em relação ao que restou da cidade. Ela foi dilapidada pelos bárbaros e, posteriormente, por influentes famílias locais em busca de ornamentos para suas villas. A região do Fórum, que era o centro político na época imperial, está praticamente em ruínas. É legal buscar por reproduções da Roma Antiga na internet. Assim, durante a visita, será possível imaginar a grandiosidade das construções no passado. No Youtube há vídeos com projeções em 3D que dão uma situada em quão grande ela era — e continua sendo!

 
Essa maquete da Roma antiga foi encomendada por Mussolini e levou 35 anos para ser feita. Ela pode ser visitada no Museu da Civilização Romana, no bairro EUR

Essa maquete da Roma antiga foi encomendada por Mussolini e levou 35 anos para ser feita. Ela pode ser visitada no Museu da Civilização Romana, no bairro EUR

 

Mas nem tudo desse passado glorioso foi perdido. Sim, é fato que muito foi destruído, saqueado, enterrado (literalmente!) pelo tempo ou levado para as casas particulares de famílias importantes nos séculos passados. Mas muito ainda é possível ser visto nas ruas, nos museus (para uma melhor preservação), em villas abertas ao público ou mesmo na arquitetura de séculos mais recentes. Os construtores foram pródigos em incorporar antigas edificações às novas. Não é raro ver igrejas que foram erguidas incorporando partes do que existia antes no local. São essas cicatrizes que tornam a cidade fascinante. Outra coisa que acho admirável notar é como Roma brilha, como ela é cor terracota, como as pessoas gritam e gesticulam, como as mulheres conseguem ser bregas, belas e elegantes ao mesmo tempo. Um perfeito equilíbrio?

DICAS, COISINHAS

Para Roma, recomendo uns quatro ou cinco dias, no mínimo, mínimo, mínimo. Na verdade, eu indicaria a vida toda, mas não dá, né? E, mesmo assim, quatro dias é para conhecer o básico mesmo. Como em toda viagem, os dias de chegada e partida acabam não contando muito como um dia útil. A menos que o voo chegue na cidade tipo 5h da manhã ou a partida seja 23h. E mesmo assim, dia de deslocamento é sempre estressante e cansativo. Fazer mala, ir pro aeroporto e chegar lá com antecedência de pelo menos 2h (sobretudo com companhias low-cost. Além disso, é preciso considerar os engarrafamentos), realizar a viagem propriamente dita, ir pro local de hospedagem, fazer check-in, descansar um pouquinho antes de sair pra rua..UFA! Não sei vocês, mas tudo que quero depois dessa correria é um bom banho, que puxa uma boa soneca, que convida a uma refeição gostosa, que estimula outra soneca…. Aí o dia já foi embora. Sério, não conto muito com os dias de chegada e partida (já não tenho mais 20 anos e todo o pique do mundo).

Ah: recomendo não ir a Roma em agosto. É de derreterá e se ver obrigado a voltar para casa dentro de um copinho. Julho também é bom evitar, mas não é tão caótico. Já marcou a viagem? Só tem como ir em agosto? Não é motivo para choro, pois ir nesse mês oferece vantagens: no verão, o sol fica no céu até umas 21h30, o que é ótimo. É bom botar pouco pano na mala e não se esquecer de colocar uns lenços grandes para cobrir coxas e colos nas igrejas, pois em algumas há até fiscais de vestimenta. Incluir protetor solar, chapéus e bonés também é recomendável. Roma no verão é tipo o Rio de Janeiro sem brisa litorânea. E nunca sair nas horas de mais sol, até porque muitos estabelecimentos fecham na hora do almoço e só abrem lá pras 16h, 17h.

 
Roma resplandece no verão, apesar do intenso calor. A luz do dia intensifica os tons terracota das paredes da cidade

Roma resplandece no verão, apesar do intenso calor. A luz do dia intensifica os tons terracota das paredes da cidade

 

E, se for a Roma nos meses mais quentes, beba muita água. É sério, uma vez minha mãe teve de me jogar em uma fontana quando eu era pequeno porque eu estava desmaiando. O bom é que em todo lugar é possível encontrar fontes pequenas com água potável, vinda das montanhas, muitas vezes ainda em aquedutos da época imperial. E, em Roma, faça como os romanos: abaixe-se, tape o buraco por onde cai a água e beba pelo esguicho que sairá de um buraquinho secreto na parte de cima da bica (é bem mais fácil beber assim). No verão, nada mais gostoso e refrescante que comprar uma típica grattachecca (lê-se grataquéca). O nome bizarro é nada mais que a versão romana da raspadinha de gelo. Gosto de procurar locais que vendem o produto usando sucos naturais da fruta e pedir pedaços de coco duro em cima. Aí depois é só sair andando pelas ruas. Ah, o dolce far niente…

HOSPEDAGEM

Roma não é famosa pela qualidade de sua rede hoteleira (a menos que o hóspede tenha muitas Realidade$ para gastar). Para quem não está buscando luxo (mesmo que mínimo), recomendo ficar perto da estação central de trem (Termini). Os hotéis são meio muquifos. Ok, são bem muquifos, nada românticos, assim como toda a região ao redor. Roma não é muito iluminada à noite, mas não há motivo para preocupação. O visitante estará seguro onde quer que vá, em qualquer hora. Infelizmente, muita gente xenófoba torce o nariz para Termini pela quantidade de imigrantes africanos. Eu acho puro preconceito. Mas, mesmo em uma cidade abençoada com tantos santos, melhor não desgrudar os olhos da carteira. Já fui furtado por um distinto senhor mais italiano impossível. Dentro da Basílica de São Pedro, no Vaticano. Santa audácia! Fiquei tão embasbacado com tanta grandiosidade e me descuidei. Adeus, 200 dólares!

Se for chegar muito cedo ou muito tarde ao hotel, é importante se certificar de antemão como é o esquema para entrar no local. Muitas vezes em Roma um “hotel” na verdade é um conjunto de apartamentos espalhado por vários andares, algumas vezes em prédios diferentes, sem uma recepção propriamente dita em cada um deles. Sim, é uma loucura. Então se o horário de chegada for em um horário “inconveniente”, o viajante pode acabar dormindo na rua. Sempre é válido se certificar que haverá alguém fazer o check-in e onde exatamente esse funcionário estará. Por fim, anotar o endereço completo: rua, número e citofono (lê-se tchitófono), que significa interfone (basicamente o nome que você deve procurar entre os botões do interfone).

ANDANDO POR ROMA

Termini é uma região super central, de onde saem os ônibus urbanos, trens para outras cidades e para o aeroporto de Fiumicino (o maior da cidade). Aliás, falei em metrô? Esqueça. Roma só tem duas linhas, você provavelmente não irá pegá-lo. As regiões mais turísticas não são bem servidas pelo metrô (metropolitana, em italiano). Estão ampliando as linhas e talvez sejam inauguradas mais estações nos próximos anos. Mas por enquanto ele tem alcance pequeno. Pudera, qualquer escavação revela um tesouro arqueológico e eles precisam interromper a obra.

Para trajetos mais longos, sugiro o uso de ônibus mesmo. É possível comprar bilhetes para uso ilimitado de metrô e ônibus por 24h (7 euros), 48h (12,50 euros), 72h (18 euros) ou uma semana (24 euros). Procure por uma das máquinas de autoatendimento da ATAC (agência de mobilidade romana). E cheque se o tíquete que você pagou é de fato o que saiu da máquina! Um amigo uma vez pagou o de 72h e “ganhou” um de 24h. Se puder, opte por comprar tíquetes de ônibus nos milhões de tabaccaios (identificados com uma letra T) espalhados pela cidade. São meio que “lojas de conveniência” onde são vendidos jornais, revistas, doces e, claro, muito cigarro (italianos fumam mais que a caipora). Bilhetes unitários são vendidos nos tabaccaios. Caso eles não vendam os passes de mais de um dia, o jeito é arriscar nas máquinas da ATAC mesmo. Você também pode comprar online com o uso de um smartphone e usar o aparelho para ter acesso aos meios de transporte público. Para mais informações em inglês clique aqui.

Roma é uma delicia de ser descoberta a pé, mesmo tendo de superar as hordas de turistas que a invadem. Recomendo muito descobri-la à noite. Adoro andar pela cidade já bem tarde, com menos calor e menos gente nas ruas. Não se surpreenda com o caos de Roma. É muito carro, muito motorino (as famosas lambretas, scooter ou vespas), muita gente se espremendo nas calçadas. Mas vale a pena o esforço que a cidade demanda de seus visitantes. Por falar em motorino, descobri recentemente esse serviço de aluguel de bicicleta ou vespas. É possível alugar só o equipamento ou participar de um passeio guiado. O site deles tem versão em português.

 
Audrey Hepburn e Gregory Peck em cena de A Princesa e o Plebeu (1953). O filme é um passeio por Roma, com direito ao típico motorino, uma marca da cidade. Crédito: Paramount Pictures

Audrey Hepburn e Gregory Peck em cena de A Princesa e o Plebeu (1953). O filme é um passeio por Roma, com direito ao típico motorino, uma marca da cidade. Crédito: Paramount Pictures

 

Na região de Termini (aliás, em toda Roma), como já disse (mas é sempre bom repetir), muito cuidado com carteiras, celulares, câmeras etc. Nada de sair com passaporte. Tire fotocópia e deixe o original no cofre do hotel. Como eu nunca fiquei em hotel em Roma com esse luxo, sempre deixava no quarto, dentro da mala, trancada. Roma é super segura. Eu cansava de voltar de madrugada de ônibus para casa. O único “perigo” eram alguns bêbados chatos. Mesmo com essa segurança toda, qualquer cidade turísticas europeia é cheia de batedores de carteira. Minha mãe já foi roubada assim em Lisboa; uma amiga, em Paris. Caso vejam grupos suspeitos, geralmente com cara de “poucos amigos”, se agarre aos seus pertences como um náufrago à boia e corra. Eles também se aproveitam justamente do momento que você está admirando as obras. Mas também não vá virar o estresse em pessoa. Basta ter atenção e aproveitar. Se quiser sair de noite em Roma, saia tranquilamente.

CHEGADA E PARTIDA

Caso chegue de avião, você vai chegar ou no aeroporto Leonardo da Vinci/Fiumicino (que é o maior) ou em Ciampino. Ambos operam voos nacionais e internacionais. Aliás, Fiumicino tem papel importante em meu pânico de voar — confira nessa matéria aqui.

De Fiumicino, há algumas opções: pegar o Leonardo Express, que sai de meia em meia hora e te leva a Roma Termini (estação central da malha urbana, intermunicipal e internacional) em 30 minutos. Custa 14 euros — crianças com menos de 12 anos não pagam. O Leonardo Express sai de dentro do aeroporto. Na hora que for comprar, pergunte se você tem de validar a passagem em uma das maquininhas que ficam na plataforma antes de entrar no trem. Senão, o fiscal lá dentro pode te multar. Pergunte sempre, em inglês ou mímica. Italiano é meio casca grossa, mas com jeitinho se soltam e viram brasileiros. Aliás, dizer que é do Brasil sempre ajuda. Esse detalhe de validar a passagem antes de entrar no vagão vale para muitos trens italianos, por isso é bom se informar na estação. Para horários do Leonardo Express você pode conferir aqui.

Aliás, viajar de trem dentro da Itália é uma opção boa. O país não é grande e dá para ir de uma cidade a outra sem gastar muito tempo e dinheiro. Comprando os bilhetes com antecedência, a economia é boa. A companhia estatal é a Trenitalia. O site tem versão em inglês e outras línguas e é possível pagar com cartão e ainda escolher o assento. Os trens geralmente são bons, sobretudo os da linha Frecce (frecciarossa, frecciaargento e frecciabianca). Em 2012, a Trenitalia perdeu o monopólio dos trens e conta com a concorrente Italo — o site possui versão em inglês e italiano. Uma dica é usar o site Omio (com versão em português) para, em uma única pesquisa, comparar preços de voos, trens e ônibus (que são cada vez mais populares na Europa). O português do site é o de Portugal, então vale lembrar que “comboio” é “trem” e “autocarro” é ônibus”. Por estar na zona central do país, Roma é um ótimo ponto de partida para explorar outras cidades italianas.

Uma opção (que eu recomendo) mais barata e fácil para ir ou vir dos aeroportos romanos são os ônibus da Terravision, que custam cerca de 6 euros. Já usei algumas vezes e deu super certo, dá para comprar online (vários idiomas) ou no aeroporto. Em Fiumicino, o estande fica na parte externa do Terminal 3; em Ciampino, no lado de fora do desembarque. Em Termini (estação central de Roma) o balcão fica na via Giolitti, 38. Mas é mais seguro comprar online, pois se o ônibus estiver lotado no horário que você desejar eles, obviamente, param a venda.

 
Roma Termini é uma das maiores estações ferroviárias da Europa. Seu nome faz referência às Termas de Diocleciano, que se encontram perto da entrada da estação. Foto: Prasad Pillai (CC BY 2.0)

Roma Termini é uma das maiores estações ferroviárias da Europa. Seu nome faz referência às Termas de Diocleciano, que se encontram perto da entrada da estação. Foto: Prasad Pillai (CC BY 2.0)

 

O percurso de Termini até o aeroporto de Fiumicino (não confundir com a cidade de Fiumicino na hora da compra) leva de 45 minutos a uma hora; de Campino para Termini, 40 minutos — tudo depende do trânsito romano, bem instável. Mas lembre-se de escolher um horário que dê tempo de chegar com 2h de antecedência no aeroporto. Veja no site a tabela de horários, pois de madrugada não tem operações. O site é bem fácil de usar.

Se seu voo for de madrugada ou muito cedinho, provavelmente você terá de pegar taxi. Saindo de Termini, a corrida geralmente fica em torno de 50 euros para o centro e bairros ao redor. As bagagens geralmente já são incluídas no preço, mas é bom se certificar antes do embarque, para não ser pego de surpresa na hora de encerrar a corrida. Aliás, usar taxi pode ser um pouco confuso em Roma. Nesse site eles explicam melhor a odisseia. Nota: o Uber não funciona muito bem por lá. Mas não esquente muito a cabeça com isso. Dá pra fazer muita coisa a pé, a cidade não é tãão grande., especialmente se você estiver hospedado perto do centro histórico. Quem gosta de bater pé e olhar a cidade, então, nem precisa pegar transporte público.

BATENDO PERNA EM ROMA

Quanto a dicas sobre Roma, vou repetir o que sempre falam e acho certo: se programar é bom, mas andar sem destino também é ótimo. O melhor é tentar misturar as duas coisas: escolher uns destinos na cidade de acordo com os interesses e tempo disponível, mas também vagar sem uma meta específica.

Sugiro ir algum dia no fim de tarde ao bairro de Trastevere, ver as igrejas, jantar em algum restaurante aconchegante. E cuidado: há muitos restaurantes turísticos – e ruins. Se tiver menu em inglês na porta, fuja. Isso vale pra qualquer cidade. Depois da ótima refeição, não pense duas vezes: compre um sorvete (um verdadeiro gelato) e saia andando pelas ruelas. E vá na igreja principal do bairro, é linda! Por isso é bom ir não muito tarde, pois ela fecha (claro). O nome é Santa Maria in Trastevere. É uma das mais antigas de Roma; a atual estrutura é do século XII e conta com belos mosaicos, inclusive na parte superior da fachada Segundo o Google, fica aberta de 7h às 21h (mas cuidado, geralmente no inverno as coisas fecham antes). A fonte em frente à igreja é sempre um ponto movimentado à noite. Lá perto também fica a interessante igreja de San Crisogono, que começou a ser erguida no século IV., terminando aaaaanos depois, ou seja, no século V.

 
Igreja de Santa Maria in Trastevere tem belos mosaicos; as colunas eram das Termas de Caracalla

Igreja de Santa Maria in Trastevere tem belos mosaicos; as colunas eram das Termas de Caracalla

 

Depois de rodar Trastevere, cruze o rio Tevere (Tibre, em português) e dê uma volta a pé pelo centro histórico. Quando você for cruzar o rio, procure a ilha Tiberina, a única porção de terra no meio do rio. Entre nela. A segunda ponte (a que liga a ilha à margem oposta a Trastevere) é a ponte Fabrício, construída no século I. Sim, está de pé, firme e forte. E é por ela que você irá passar. Do outro lado do rio você “cairá” nos templos do fórum boarium (o de Hercules e o de Portunus), da era republicana de Roma (alguns séculos antes de Cristo) e no Arco de Juno (século IV), onde comerciantes de gado descansavam sob sua sombra. Lá pertinho também sugiro a igreja medieval de Santa Maria in Cosmedin, que atém de linda, é onde está a famosa Bocca della Verità (Boca da Verdade), um grande bloco de mármore com um rosto esculpido. Segundo a tradição medieval, quem colocasse a mão ali e contasse uma mentira teria a mão decepada. Era usada para fechar contratos ou negócios. A Bocca della Verità fica em uma espécie de “varanda”, então dá pra ver mesmo com a igreja fechada.

Ali perto também fica a igreja San Nicola in Carcere (um perfeito exemplo da fusão de tempos em um único prédio): a lateral é incrustada por colunas de antigos templos de antes de Cristo. A igreja é medieval, mas foi reconstruída parcialmente no século XVI e XIX. Ainda possui um campanário medieval. Ou seja, um mix de estilos. Aparentemente, a reciclagem já era moda por lá. Ali perto fica o Teatro di Marcello, construído no século I a.C. para espetáculos de música e dança. Lembra o Coliseu por fora.

Meu lugar favorito? Panteon, sem dúvidas. É a maior e mais bem conservada construção da época da Roma Antiga, começou a ser feito pouco depois de Cristo e ainda está perfeito. Lá perto recomendo um pulo no famoso café La Tazza d’Oro. Outros pontos interessantes na área são o que restou do templo de Adriano (das mais de 100 colunas ficaram em pé apenas onze, mas vale a pena visitar e imaginar como deve ter sido no passado), a igreja Sant’Ignazio di Loyola, o palácio Doria Pamphili (nunca fui, mas as fotos são incríveis e tem ótimos reviews de visitantes em sites especializados) e a igreja (e seu obelisco egípcio do lado de fora) de Santa Maria sopra Minerva, a única gótica da cidade. Lá perto também está a Fontana di Trevi. Prepare a moedinha para lançar, de costas. E não se esqueça: é para lançar com a mão direita e fazê-la voar em direção à água passando por cima do ombro esquerdo. Depois disso, o seu retorno a Roma, um dia, é garantido.

 
O Panteon pouco mudou em seus inacreditáveis dois mil anos de existência. As 16 colunas coríntias são feitas cada uma a partir de um único bloco de pedra maciça. Crédito: Luc Mercelis

O Panteon pouco mudou em seus inacreditáveis dois mil anos de existência. As 16 colunas coríntias são feitas cada uma a partir de um único bloco de pedra maciça. Crédito: Luc Mercelis

 
 
O Panteon surgiu como templo politeísta. No século VII, virou igreja católica e permanece assim até hoje. Crédito: Andrew Wales

O Panteon surgiu como templo politeísta. No século VII, virou igreja católica e permanece assim até hoje. Crédito: Andrew Wales

 

Não perca tempo entrando no monumento a Vittorio Emannuele II, também conhecido como Altar da Pátria — um bolo branco enooorme e vazio feito no século XX emanando os tempos áureos de Roma. É pavoroso. Os romanos odeiam. Ele fica na piazza Venezia, que é uma das pontas da Via dei Fori Imperiali, onde está o Fórum Romano (ou o que sobrou dele). Na outra ponta da via está o Coliseu. Estando na Piazza Venezia e se posicionando de frente para o tal bolo branco, olhe para a direita. O único prédio é o Palácio Veneza, que é um dos remanescentes da era renascentista e onde ficava, na época, a embaixada de Veneza, quando a hoje cidade famosa por seus canais era uma república (Marco Polo, essa galera…). Bem, do único balcãozinho do palácio, Mussolini fazia seus discursos. Imagine a praça lotada de fascistas. As fotos da época dão medo. Não vale a pena comprar o ingresso para conhecer lá dentro. A coleção é pequena, desorganizada e pouco interessante. Mas se quiser ver o pátio, sugiro entrar gratuitamente pela lateral, na piazza di San Marco. E atrás do Palácio, indo pela via del Plebicito, não deixe de dar uma olhada no lindo teto da chiesa del Gesù (igreja de Jesus). Em frente à igreja há o Palácio Altieri, em estilo barroco. As avaliações de quem já visitou o acervo por dentro são meio decepcionantes, então talvez valha a pena admirar por fora ou partes internas cujo acesso seja gratuito.

E também na Piazza Venezia estão os mercados de Trajano (Traiano, em italiano), o “shopping center” da Roma Antiga, com venda sobretudo de produtos alimentícios. Vale a pena conhecer. Ele foi construído entre os anos de 106 e 112. A precisão das datas das construções romanas é por conta das informações gravadas nos tijolos das obras. No Mercado de Traiano eu peguei o audioguia e acho que valeu a pena.

DIVERSÃO NOTURNA

Quanto a balada, realmente não sei o que recomendar. Quais são os bairros boêmios? Trastevere, Campo dei Fiori e San Lorenzo (o bairro universitário). Se tiver querendo beber, rir e interagir, são locais interessantes. Aliás, por falar em Campo di Fiori, já falei dele nessa matéria improvável sobre o menino do Acre.

Para casais gays: Roma é Itália, e Itália é aquela coisa, mega conservadora. Já dei muito close por lá, mas é aquilo que sempre digo: um olho no peixe, outro no gato. É que nem no Brasil. Não é Irã, mas também não é Suécia. Balada gay? A mais famosa é a mucassassina (literalmente vaca assassina). Não é longe do centro, mas complicada de chegar com meios públicos. É enorme, com várias pistas. Ah, e bebidas alcoólicas na Europa são um tiro, sobretudo nas baladas. Mas, alma pinguça, calma. Há muitos bares nas ruas com bebidas mais baratas. Eu mesmo volta e meia comprava garrafas grandes de cerveja (birra) italiana nos mercadinhos muquifentos perto de Termini, saia andando com algum amigo pelas ruas de noite (uma delícia) e era feliz gastando pouco. Roma de noite é linda. E bem mais vazia.

VATICAno

No Vaticano, não deixe de ir à praça e basílica de São Pedro, pois são inesquecíveis, mesmo que você seja um crítico ferrenho da igreja católica — se assim for, vá para admirar a arquitetura e obras. Na basílica, reserve especial atenção para a estátua La Pietà, de Michelangelo; e para o monumento ao papa Alexandre VII, a última obra de Bernini, o magistral artista barroco. Há ainda o incrível baldaquino de Bernini, bem no centro da basílica. Lá perto do baldaquino fica exposto um fragmento de um mosaico de Giotto do século XIII. O ingresso ao local é gratuito.

Ah, por falar na basílica, vale a pena subir na cúpula (mediante pagamento). Não só para ver bem de perto, por dentro, a majestosa cúpula de Michelangelo mas também para admirar a vista da cidade lá de cima, bem do topo da construção. E vale a pena pagar um pouco a mais para fazer parte do trajeto em um elevador. Costuma ter filas, então reserve um tempo para elas. Como a escada vai serpenteando a enorme cúpula pelas paredes internas, não recomendo para pessoas com claustrofobia.

 
A Basílica de São Pedro é a maior igreja católica do mundo e está localizada no local onde foi morto o apóstolo que dá nome à edificação — a versão atual é renascentista

A Basílica de São Pedro é a maior igreja católica do mundo e está localizada no local onde foi morto o apóstolo que dá nome à edificação — a versão atual é renascentista

 

E é sempre bom lembrar dos museus do Vaticano (Musei Vaticani), que são enormes e podem ter filas grandes, tipo o Louvre. Todos recomendam comprar online o ingresso. Lá está a capela Sistina, e não na Basílica de São Pedro, como muitos pensam. Os museus (no plural mesmo, apesar de parecer uma única grande construção) funcionam em antigos palácios papais e têm muita coisa para ver, sobretudo de arte antiga (egípcia, assíria, grega, romana etc). Como todo museu grande, é bom priorizar o que ver. Não deixe de reparar na escadaria de Bramante, feita de modo a permitir a subida e descida de cavalos, em caso de emergência. Não esqueça também de procurar as salas de Rafael (do artista homônimo).

Ainda no Vaticano, acho que não vale a pena visitar o Castelo Sant’Angelo. Não me perguntem o motivo, apenas não gosto. Era o antigo mausoléu do imperador Adriano, que por ser biba deveria ter tido um gosto mais refinado — pelo menos é o que dizem de nós, bibas. Mas eu sou prova viva de que ser gay e ter estilo apurado nem sempre são best friends.

MAIS ATRAÇÕES

O ingresso para o Coliseu vale também para o Fórum (Foro Romano ou Imperiale, em italiano) e Palatino (realmente não se iluda, não sobrou muita coisa intacta). Como as filas do Coliseu são maiores, a dica é comprar o ingresso para ver primeiro o Fórum/Palatino e depois ir ver o Coliseu. Não se esqueça de olhar o lindo arco de Constantino, ali do lado do Coliseu, e os aquedutos que traziam água das montanhas, atrás do arco. No Fórum, que por séculos foi o centro da vida política, econômica e social da Roma Antiga, observe o que sobrou da Basílica Aemília, local de comércio do império. Em 410 D.C o local foi incendiado pelos invasores Godos. As moedas abandonadas às pressas derreteram com o fogo e ficaram incrustadas nas pedras do chão. E de noite, o Coliseu e o Foro iluminados são maravilhosos, um delicioso passeio.

O Palazzo Massimo (Museo Nazionale Romano), perto de Termini, eu não gostei muito, não. Achei bagunçado. Em todo caso, fui agora no site Trip Advisor (amo <3) e ele é bem avaliado. O ingresso vale também para as Termas de Diocleciano (ao lado), Crypta Balbi (já fui, é interessante) e Palazzo Altemps. Se você for, me diz o que achou :-).

Um museu que gosto muito, muito, são os museus capitolinos (musei capitolini, em italiano). Eles levam o nome do monte capitolino, uma das sete elevações onde nasceu Roma. De uma das partes altas, inclusive, eram atirados para a morte os traidores da cidade. Reza a lenda que o primeiro assentamento foi fundado pelo deus Saturno (da abundância, riqueza e agricultura). De fato, achados arqueológicos no local datam do fim da Idade do Bronze (700 a.C), que é quando a história oficial documenta a fundação de Roma.

Voltando aos museus, eles têm um acervo notável de arte clássica romana. Preste atenção especial na estátua em bronze Spinario, de um menino tentando tirar um espinho do pé, do século I. E também na Loba Capitolina, estátua feita em bronze outrora atribuída a um artista etrusco no século V a.C (mas as modernas técnicas de datação de carbono estimaram que ela é do século XI ou XII). Ela representa a loba cuja lenda explica a origem de Roma (ela teria amamentado os bebês gêmeos Rômulo e Remo, fundadores da cidade). A imagem das crianças foram adicionadas depois, em meados do século XV. Outros destaques são uma imensa cabeça (em mármore, claro) do imperador Constantino II e uma Vênus Esquilina. Na verdade, as obras-primas são tantas que me perderia aqui se fosse citar uma a uma.

 
Segundo a lenda, Rômulo e Remo eram filhos do deus Marte e foram jogados em um cesto no rio Tibre por conta de uma longa história que não cabe nessa legenda rs. E ainda tem o crédito! SOCORRO! Crédito: Burkhard Mücke

Segundo a lenda, Rômulo e Remo eram filhos do deus Marte e foram jogados em um cesto no rio Tibre por conta de uma longa história que não cabe nessa legenda rs. E ainda tem o crédito! SOCORRO! Crédito: Burkhard Mücke

 

A praça e a escadaria que levam ao topo do Campidoglio (onde estão os museus capitolinos), com degraus super amplos, foram projetadas por Michelangelo a pedido do Papa Paulo III Farnese, em 1536, como proposta de remodelamento urbano. Ao lado há uma outra escadaria, com ao topo a (sóbria por fora e linda por dentro) igreja de Santa Maria in Aracoeli, com uma interessante fachada. Colunas internas foram retiradas de outros edifícios da Roma imperial. E aos pés da escadaria da igreja, do lado esquerdo (de quem olha pra cima) fica a ínsula romana. Semi-enterrada, a ínsula é um exemplo de um prédio romano, um bloco de apartamentos do século II, o único que restou dessa época. Foi “descoberta” na década de 1930. Parte dela ainda está enterrada. As condições de vida no local eram insalubres. Pouca gente nota, pois está super escondida. Mas vale a pena parar ali e tentar imaginar como eram aquelas pessoas, quem vivia ali, o que faziam etc. Fazendo pesquisas para essa matéria descobri que é possível comprar um ingresso e visitar dentro. Certamente farei em minha próxima ida à cidade.

PASSEIO A PÉ

Roma é uma delícia para se viver ao ar livre. É ótimo andar muito de noite, com as ruas mais vazias. De dia ou de noite (sobretudo de dia), quando estiver na Piazza di Spagna, suba as escadarias. Mas lá em cima, no final da escadaria, sempre fica meio muvucado. Se for de dia (melhor ainda ano fim de tarde), dando as costas para a escadaria, ande para a esquerda — é apenas uma rua, não tem como errar. Você passará pela academia francesa, um local onde, por séculos, artistas franceses eram enviados para estudar arte em Roma. Olha que delicia! Fica na Villa Medici, uma linda construção que pertenceu à influente família Medici (de reis e rainhas de vários reinos europeus). A academia foi fundada no século XVII por ninguém menos que o pintor Coubert e já recebeu “estudantes” como Debussy e Bizet, além de vários pintores.

Depois, continue andando, sempre se afastando da escadaria da piazza di Spagna. A vista das cúpulas das igrejas é linda e há poucas pessoas por lá. A rua acaba em uma das entradas da Vila Borghese (o maior parque da cidade), sobre a Piazza del Popolo. Desça as escadarias e entre na igreja Santa Maria del Popolo. Lá é possível apreciar um quadro lindo de Caravaggio, uma cúpula de Rafael e estátuas de Bernini. Aliás, igreja é o que não falta em Roma. Sugiro fortemente ainda a de Santa Maria Maggiore e a de San Giovanni in Laterano, ambas imponentes. E tente incluir na lista o altar de Ara Pacis (distante uns dez minutos a pé da piazza del Popolo), erguido por ordem de Augusto em 9 a.C para comemorar a Pax Romana, ou seja, um período de relativa paz pelo qual o império passou. Há ainda um pequeno museu bem interessante no local.  

ROMA DARKZEIRA

Curte catacumbas? Sao túneis quilométricos onde os cristãos enterravam os mortos na época de Cristo, porque o cristianismo era proibido. Eu acho bem legal (as catacumbas, não a proibição religiosa). Se você jogar “catacombe roma” no google vai achar várias. Eu fui nessa aqui, dá para ir de ônibus e é central. No bairro que eu morava também tem vááárias — a estação do metro para lá é a annibaliano. É central também. Lá você encontrará as bonitas igrejas de Santa Costanza e, ao lado, a de Sant’Agnese fuori le Mura. E as catacumbas, claro, cuja visitação é de 9h às 12h e de 15h às 17h (exceto domingos, dias santos e período de fechamento prolongados. Bom checar nesse site aqui.

As catacumbas de San Sebastiano ficam na via Appia antiga, estrada que ligava Roma a Brindisi, no sul da península itálica. Eu super recomendo a visita a uma delas

As catacumbas de San Sebastiano ficam na via Appia antiga, estrada que ligava Roma a Brindisi, no sul da península itálica. Eu super recomendo a visita a uma delas

Falando em subterrâneos, mando uma outra dica. Uma vez, fiz um passeio que nem é muito divulgado, embaixo da basílica de São Pedro (Vaticano). Lá ficam as ruínas da primeira basílica, do século I. Tem umas coisas bem interessantes. Sobre isso há esse link aqui. Para fazer o passeio é preciso agendar, ou seja, mandar um email para scavi@fsp.va dizendo: 1) o número de participantes; 2) o nome dos participantes; 3) a língua para o guia; 4) o período de disponibilidade, indicando o mês em letras (ex: 06/may a 10/may). Exato: não dá para escolher o dia que você quer ir, eles é que vão te dizer o dia e a hora que você poderá ir. Ah e 5) informar como prefere receber a resposta (no caso, e-mail). Claro que ninguém é obrigado a aceitar o dia e a hora que eles vão oferecer. O tour dura 90 minutos e custa 12 euros (preço de janeiro de 2020). Enfim, burocrático, né? Talvez seja bom para quem já esteve em Roma e quer ver coisas novas.  

Um passeio que dizem ser bem interessante é o das ruínas das Termas de Caracalla. Nunca fui, mas dizem que é bonito. Mas são ruínas, viu?  

COMIDA!

Recomendo experimentar um supplí, bolinhos fritos de arroz típicos de Roma. Acho uma delícia, com queijo derretido dentro. Vende em qualquer pizzaria a taglio ( lê-se “a talho”). São as bibocas que vendem pizza ready to go. É escolher o tamanho do pedaço, pedir para pesar, pagar e sair comendo. Essas pizzarias geralmente são bem boas. É uma ótima forma de comer uma coisa gostosa enquanto se bate perna pela cidade. Tente ver aquelas que estão menos entupidas de turistas. Mas, em geral, qualquer uma é bem OK. E não deixe também de comer fior di zucca! Flor de abóbora frita recheada com queijo e/ou alice (anchovas). Mas para comer isso tem de ser em restaurante. Por favor, faça esse favor a si mesmo.

 
Como eu AMO essa tradicional receita italiana de flor de abóbora recheada, empanada e frita. Crédito: Ivonne Zanzucchi

Como eu AMO essa tradicional receita italiana de flor de abóbora recheada, empanada e frita. Crédito: Ivonne Zanzucchi

 

Em relação aos sorvetes, não tem muito mistério. Procure os locais que vendem produto artesanal (artigianali). Lá o esquema não é como em algumas sorveterias do Brasil, onde costumamos pedir por “bolas”. Você diz o tamanho do cone ou copo que quer e pronto (algumas geladeiras brasileiras adotam esse método). Sugiro muito os sabores de chocolate, nocciola (avelã) e pistache. Os atendentes sempre perguntam se você quer panna em cima (é tipo um chantilly, eu não curto muito).

Ah, bom frisar. Italiano geralmente não fala inglês. Ou fala um fio de inglês. Mas amam brasileiros. Se forem grossos com você, não ligue, pois isso pode estragar seu passeio. “Fale” mentalmente um belo palavrão (ou verbalmente mesmo, com um sorriso no rosto) e a vida continua. Mas tome cuidado que português é parecido com italiano e eles podem te entender.

Passe pela experiência de ir, de manhã, a um bar (bar é como eles chamam os locais que vendem café, tem um em cada esquina. Para consumir álcool, eles vão aos pubs). Peça um café (não precisa pedir expresso. Todo café na Italia é expresso. E sempre delicioso). De preferencia, peço por um café corto, uma tradição italiana: vem pouquinho e bem forte. E peça um cornetto all cioccolato (croissant com chocolate). É o típico café da manhã romano. Se o bar estiver cheio, é uma experiência antropológica. Quer algo salgado? Peça um tramezzino (sanduíche, lê-se tramedzzíno). Mais romano, impossível. Também tome um caffé correto (lê-se mais ou menos coréto). Nada mais é que café turbinado com álcool.

E se achar uma doceria com doces sicilianos, ataque! Amo cannoli e cassata. Quando estiver na Fontana di Trevi (que estará sempre cheia de turistas, mesmo de noite), vá à piazza Colonna, distante poucas quadras. Além de poder ver a linda e enorme coluna de Marco Aurélio (construída no século I para celebrar o imperador, com representações em alto relevo de suas vitórias em batalhas importantes), lá você pode ir em um café/gelateria que vende ótimos doces sicilianos. Olhando para a via del Corso e de costas para a coluna, fica no lado direito da praça. Não tem nome (risos), mas graças ao google maps descobri que fica no número 356. Peça uma cassata e um cannolo. E um café, claro.

Restaurantes? Infelizmente não tenho dicas para dar. Quando morei em Roma, ou cozinhava (mal) em casa ou comia (bem) pizza na rua. Mi dispiace :-(

INTERESSES ESPECÍFICOS

Um amigo meu que ama cinema foi visitar os estúdios da Cinecitta, onde foram filmados grandes clássicos do cinema italiano e mundial. Fica a uns 30 minutos de metrô do centro, mas tem estação bem na porta (estação cinecitta). Bom ver antes no site horários de abertura, agendamento de visitas etc. Tem versão em inglês. Inclusive a vocação cinematográfica de Roma, que já serviu de cenário para tantos filmes clássicos, foi abordada em uma matéria aqui do rivotravel da série Cidades em Cena.

Um lugar que eu fui milênios atrás (não lembro absolutamente nada), mas que todo mundo que curte história ama é o Museu Nacional de Arte Etrusca de Villa Giulia (tem ótimas notas nos sites de turismo). Fica perto da Villa Borghese (o principal parque de Roma). A civilização etrusca viveu na região do Lazio (onde está Roma) antes da civilização romana aparecer. Ou seja, é velha pra c******. O site para agendamentos? Clica aqui.

Aliás, fica a dica do site do coopculture, uma cooperativa que vende ingressos para pontos de interesse que muitas vezes têm entrada restrita de visitantes. Vale a pena ver no calendário o que eles têm a oferecer. O site, em inglês e italiano, pode ser acessado clicando aqui.

Na Villa Borghese, se quiser, dê um pulo na Via Veneto. Lá Fellini ambientou La Dolce Vita e, assim, acabou cunhando (e eternizando) o termo Paparazzi (o filme é incrível, vale ver antes de ir). A rua não tem mais o glamour de antigamente. É a Roma atual, com sua decadência elegante. Sabe a festa de início do filme A Grande Beleza? É bem aquilo (não é a toa que, da festa, avista-se o topo dos prédios da Via Veneto). Na entrada da Via Veneto existe um enorme pedaço dos Muros Aurelianos, com direito aos arcos de entrada da cidade (o muro e o arco ficam entre a Vila Borghese e a via Veneto). A muralha enorme foi construída sob as ordens de Aureliano (270—275 d.C) para defender a cidade. Eu acho incrível. É notável uma parte mais antiga, de cor mais clara, chamada porta pinciana. Ali perto também é possível marcar (com agendamento) uma visita na bela Galeria Borghese. As estátuas mais incríveis de Bernini e Canova eu vi lá. Uma, de Bernini, rendeu até um conto do rivotravel, tamanho meu arrebatamento.

 
Eu até hoje acho que essa estátua de Bernini, parte do acervo da Galeria Borghese, foi feita por um extraterrestre. Olha o detalhe da mão na coxa. Como pode?

Eu até hoje acho que essa estátua de Bernini, parte do acervo da Galeria Borghese, foi feita por um extraterrestre. Olha o detalhe da mão na coxa. Como pode?

 

Outro ponto interessante nas cercanias é a igreja Santa Maria della Vittoria. Nela está o Êxtase de Santa Teresa, escultura magistral de Bernini representando a experiência mística de Santa Teresa de Ávila trespassada por uma seta de amor divino lançada por um anjo. Apesar da dor, há uma forte e dicotômica sensualidade exaltada na teatral obra. Imagino que a igreja católica, que comissionou a obra, deve ter ficado em choque.

Igrejas enormes e lindas que também merecem ser vistas são as já citadas Santa Maria Maggiore e San Giovanni in Laterano (metrô San Giovanni). Mas não despreze as pequenas. Nunca se sabe o que tem lá dentro. E se for a San Giovanni in Laterano, observe que, na frente, tem um trecho bem grande dos Muros Aurelianos. E as faixas da avenida passam entre os arcos. Os ônibus tiram cada fino… de perto dá pra ver o tanto de tijolo que não existe mais. Roma é isso mesmo. Sempre em transformação. Caótica, com trânsito pior que o de Salvador, Nova Delhi e Cairo juntas (um amigo quase foi atropelado na faixa de pedestres por uma freira, e ainda ouviu reclamação), suja, pouco cuidada. Quase abandonada. Mas eternamente linda. Aproveitem.

UM PEQUENO DICIONÁRIO

Buongiorno (lê-se buon djorno): Bom dia

Ciao (tchiao): um jeito informal de dizer “oi” e vale tanto para a chegada quanto para a saída.

Buona sera (buona cêra) (usado a partir das 15h)

Buona notte (só é usado para quando se vai dormir).

Mi scusi, Lei parla inglese?: Desculpa, o senhor/a senhora fala inglês? (sim, vale para os dois gêneros).

Mi scusi, però non ho capito, Lei può ripetere?: Desculpa, mas não entendi. Poderia repetir?

Mi scusi, Lei sa dove si trova (inserir nome do lugar)?: Desculpa, o senhor/a senhora sabe onde fica (inserir nome do lugar)? (OBS: já deu pra sacar que tudo começa com “mi scusi”, né?)

Mi scusi, quanto costa questo?: Desculpa, quanto custa isso?

Mi scusi, Lei sa quale autobus devo prendere per andare a (inserir o lugar)?: Desculpa, você sabe qual o ônibus devo pegar para ir ao (inserir o lugar)?

Si, grazie (sim, obrigada/o)

No, grazie (não, obrigada/o)

Prego (de nada)

Mi scusi, Il conto, per cortesia: A conta, por favor.

Buon viaggio!

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