TAP Air Portugal entre as empresas aéreas mais seguras de 2022 — e isso é ótimo para os panicados

A empresa aérea TAP Air Portugal alcançou o quinto lugar na lista das mais seguras do mundo em 2022. O ranking foi estabelecido pelo renomado site Airline Ratings. Essa notícia é muito boa para panicados e panicadas brasileiros (e europeus) e eu já conto mais sobre isso. Antes vamos dar uma olhada mais de perto na relação divulgada.

 
 

O ouro foi para a Air New Zealand, que nunca voou para o Brasil pois ainda não existe um avião comercial com autonomia para fazer a rota entre o país da Oceania e aqui, mas a empresa já anunciou que pretende, no futuro, incluir o Brasil em sua malha aérea. Uma opção para voar com eles era pegar o voo que saía de Buenos Aires e ia para Auckland, na Nova Zelândia, mas a companhia cancelou a rota em 2020, com o começo da pandemia. Em 2022, diversas operações suspensas foram reativadas, mas a capital argentina ficou de fora dessa — era o único destino deles na América do Sul.

A prata foi para a Etihad, sediada em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos. Ela tinha uma rota entre seu principal hub e São Paulo — a estreia foi em 2013, com muita pompa (afinal, é uma das melhores do mundo). Mas acabou parando de voar para cá em março de 2017. Atualmente, a Etihad não voa mais para nenhuma cidade latino-americana.

Com o bronze fica a Qatar Airways, que ganhou muita evidência neste ano por conta da Copa. Assim como a colega acima, é uma ótima companhia. Faz a rota São Paulo (Guarulhos) — Doha e chegou a manter três voos diários durante o evento esportivo saindo da capital paulista para seu hub no aeroporto Hamad (que por sinal foi considerado em 2021 o melhor do mundo pelo ranking SkyTrax, já fizemos matéria sobre isso aqui).

O quarto lugar ficou para a Singapore Airlines, outra companhia muito renomada. Ela operou em São Paulo entre 2011 e 2016, com uma escala em Barcelona (Espanha) antes de rumar para o oriente em direção a Singapura. O voo diário era em um belíssimo (acho eu) Boeing 777-3000ER.

 

Boeing 777-300ER da Singapore decola em fevereiro de 2022 de Zurique, na Suíça. Crédito: Aero Icarus/ Creative Commons

 

Antes de continuar, preciso dizer que, nas minhas pesquisas para esta matéria, descobri que o Airline Ratings divulgou esse ranking das empresas aéreas mais seguras de 2022 em… janeiro! A pergunta que fica no ar é: exercício de futurologia? Quem divulga um ranking dos “melhores do ano” logo quando o ano começa? Pelo que sei, esse ranking é bastante sério. Foram no total 385 empresas analisadas. Entre os fatores observados para a elaboração da lista estão quedas de aeronaves e acidentes graves nos cinco anos anteriores a sua publicação, pequenos incidentes relatados pelos pilotos nos dois anos anteriores, idade da frota (dado muito importante), o fator inovação dentro da empresa, dados levantados por associações internacionais, como a IATA, entre outros. Como o ano analisado foi o de 2021, também foram levados em consideração os protocolos aplicados pelas companhias para conter o avanço da Covid-19.

O máximo de estrelas são sete, nota atingida pela TAP. No Brasil, Gol e Azul ficaram com seis estrelas cada uma. Segundo o site especializado, a Gol apresentou uma série de “incidentes graves” (sem entrar em detalhes) e por isso perdeu uma estrela. Já a Azul não ganhou nota máxima por conta de falhas no combate à Covid-19. A LATAM entrou como sendo chilena (as ações do grupo LATAM Airlines são negociadas na Bolsa de Valores de Santiago, segundo informações do site da companhia), mas, em todo caso, recebeu também seis estrelas.

 

Airbus A300-900neo da TAP, empresa que fez a estreia do modelo em voos comerciais. Crédito: Creative Commons

 

Pois bem, voltando ao assunto. Em quinto lugar no ranking das mais seguras, uma ótima posição dada a forte concorrência, ficou a TAP Air Portugal, bastante conhecida de muitos viajantes brasileiros e brasileiras Vale destacar que ela ficou à frente de nomes consolidados no cenário internacional como SAS, Cathay, Lufthansa, Finnair, Air France, British Airways e Emirates, todas essas no Top 20 da lista das mais seguras. Vale destacar que a empresa portuguesa é a europeia com melhor colocação.

Citado pelo Portal Brasileiro do Turismo, o editor-chefe da Airlines Ratings, Geoffrey Thomas afirmou que “a TAP Air Portugal tem um excelente histórico de segurança e isso não é surpreendente, pois manteve sua frota jovem e sempre procurou as melhores aeronaves e foi uma das primeiras a adotar avanços em segurança. O seu registro de incidentes nos últimos dois anos tem sido dos melhores”. Ela, por exemplo, foi a primeira empresa a voar comercialmente com o novíssimo Airbus A300-900neo (foto acima). Em dezembro de 2018, o modelo decolou na rota para São Paulo (sinal da importância do Brasil para a empresa).

A TAP foi fundada pelo governo daquele país em 1945 e o primeiro voo para o Brasil ocorreu em 30 de outubro de 1960, com uma operação conjunta com a finada empresa brasileira Panair. Era a chamada “Rota da Amizade”, que é como muitos ainda chamam os voos entre Portugal e Brasil. O voo saía de São Paulo com destino a Lisboa, com paradas no Rio de Janeiro, Recife e ilha do Sal, em Cabo Verde. Atualmente, o Brasil é seu principal mercado internacional. São onze cidades atendidas: Porto Alegre, São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília, Salvador, Maceió, Recife, Natal, Fortaleza e Belém (sendo que Rio e São Paulo contam também com voos diretos para a cidade do Porto). E em dezembro de 2022 a TAP anunciou um aumento de voos no próximo verão europeu (junho a setembro de 2023). A capital paulista, por exemplo, passará a contar com 20 voos semanais para Lisboa. No último verão de lá, os aviões portugueses transportaram meio milhão de passageiros nas rotas brasileiras. A TAP é a companhia com mais ligações aéreas entre o Brasil e velho continente. De janeiro até o dia 18 de novembro deste ano, ela transportou 1,1 milhão de passageiros nos voos saindo ou chegando no Brasil.

 

Eu em Lisboa em 2010, em foto tirada do Castelo de São Jorge, com a ponte 25 de abril ao fundo

 

Bom, eu não deixei claro, mas é interessante ressaltar. Essa matéria não é publi (como chamam atualmente os conteúdos pagos na internet). Eu particularmente gosto muito da TAP por diversos motivos, e um deles, talvez o principal, é por proporcionar uma ligação direta entre a cidade onde resido atualmente, Salvador, e Lisboa, de onde a empresa possui uma ampla gama de destinos como conexão. Há muitas reclamações de clientes em relação à empresa? Sim. Conversando informalmente com uma amiga sobre essa matéria (ela viaja bastante, a trabalho e a passeio), ela me disse que costuma chamar a TAP de Take Another Plane (“Pegue outro avião”, em inglês). Em meados deste ano, por conta de atrasos do voo da empresa, ela perdeu uma conexão em Lisboa e não teve assistência no aeroporto português. Mas a justíssima implicância dela vale para quase todas as companhias aéreas. “Acho que se você esta condenado à classe econômica, como 99% dos mortais, vai sofrer cada vez mais. As poltronas quase não reclinam, a comida é de plástico. E respirou, pagou. Tem de pagar por tudo, por malas, para selecionar uma poltrona menos pior, está cada vez pior viajar assim”, diz minha amiga, uma viajante profissional.

Eu mesmo já tive muitas dificuldades com a TAP, como com o call-center deles (muitas vezes leva uma vida para atender) e com malas extraviadas. Meu marido já ficou 7h na base do pão e água pois esqueceram de embarcar o jantar vegetariano. E é isso que minha amiga falou: tem de pagar para ter uma poltrona com mais espaço para as pernas (tenho 1,86m). Também acho as comissárias e comissários um pouco rudes. Mas eu passo por cima disso. Me sinto seguro voando com eles, e para um panicado isso é o que mais importa.

Mas, afinal, por qual motivo a boa colocação da TAP no ranking é uma ótima notícia para os panicados? Ora, por tudo que eu disse lá em cima. É a companhia que melhor liga o Brasil à Europa, com dezenas de voos semanais para onze cidades brasileiras. Veja lá se eu, por exemplo, vou trocar a facilidade de, em oito horas, chegar na Europa? “Descer” até Rio ou São Paulo para pegar um voo? Que nada! E eu moro em Salvador, relativamente perto de Guarulhos e do Galeão. Mesmo assim, “perderia”, por baixo, umas seis horas nessa brincadeira, isso se a conexão for rápida. Imagina quem mora mais pro Norte do Brasil? E bem sabemos que, para um panicado, cada hora a menos em um avião, cada decolagem economizada, tudo isso é lucro! E se for em uma das cinco empresas aéreas mais seguras do mundo, melhor ainda.

E não estou sozinho nessa, não.

A jornalista Monica Vasku viaja de avião desde que é pequena e, apenas na fase adulta, começou a desenvolver um medo. “Não chega a ser nada incapacitante, mas não consigo relaxar enquanto estou na aeronave. O medo é maior nos trechos internacionais, quando precisamos cruzar grandes distâncias sobre o oceano. Sinto muita agonia ao pensar em estar literalmente no meio do nada”, conta. Ela diz que costuma viajar muito pela TAP. Monica tem nacionalidades brasileira e finlandesa e, nos últimos anos, voou bastante entre os dois países. “Usei muito Lisboa como cidade para conexão, o que me levou a gostar bastante de lá e voltar a passeio pela TAP também. As minhas experiências com a empresa são de voos internacionais, que costumam ser mais confortáveis”, diz.

 

Monica posando em frente à Torre de Belém, em Lisboa, e segurando o aviãozinho de pelúcia que o filho pequeno ganhou durante um voo com a TAP

 

A jornalista conta que sempre foi bem atendida pela equipe de funcionários da empresa, até quando surgiram problemas operacionais na época da pandemia. “Guardo com carinho até hoje o avião de pelúcia que veio no kit oferecido pela TAP para bebês. Foi a primeira viagem internacional do meu filho. A TAP também é a única empresa que faz a viagem para a Finlândia saindo diretamente de Salvador, com conexão em Portugal. Antes tínhamos a Condor. Agora, se não fosse a TAP, seria sempre obrigada a fazer mais uma conexão em São Paulo”, afirma.

Outra panicada que é passageira frequente da companhia portuguesa é a arquiteta Márcia Reis. Ela relata que o medo de voar foi crescendo com a idade — inclusive fizemos matéria no rivotravel recentemente sobre isso, que pode ser lida clicando aqui. Márcia sofre desde o momento em que compra a passagem. Chega a pensar várias vezes em desistir. Porém jurou pra si mesma que jamais deixaria o medo de voar impedi-la de fazer uma das coisas que mais ama, ou seja, viajar. Ela vai assim mesmo, aos trancos e barrancos. “A véspera da viagem já é uma lástima, fico irritada e nervosa, e por conta disso sou péssima em arrumar as malas, que sempre acontece no last minute”. Em voos curtos, para segurar a onda, toma alguma bebida forte e relaxa. Em rotas mais longas, usa remédios para dormir. “Por conta disso tenho várias histórias engraçadas, de entrar no armário de casacos pensando ser o banheiro ou até ser carregada”, diz.

 

Márcia Reis em voo da TAP em dezembro deste ano

 

A arquiteta conta que a experiência com a TAP sempre foi positiva. “E viajo desde 1974 quando vim pela primeira vez para a Europa estudar inglês, em Londres. Normalmente Lisboa é a minha porta de entrada no continente, até porque sempre gostei muito de Portugal e hoje tenho uma filha morando lá”, diz. Por falar em filha, Márcia ressalta que sempre fica agoniada sabendo que alguém da minha família está voando. “Sempre peço para avisarem quando pousam”, diz.

Uma outra panicada é a engenheira de computação Marina Santa, só que dessa vez ela é novata na TAP. Em outubro deste ano, ela fez sua primeira viagem mais longa, saindo de São Paulo e indo para Paris, com conexão na capital portuguesa. Essa viagem para a França quase aconteceu cinco anos atrás, mas teve de ser cancelada por conta do pavor de Marina de se imaginar entrando em um avião. “Naquela época eu estava com Transtorno de Ansiedade Generalizada e não consegui fazer a viagem. Hoje faço tratamento e terapia, o que me possibilitou ficar 11 horas dentro de um avião”, conta.

E ela fez o dever de casa mesmo. Além da terapia, buscou entender como funciona um avião e como ele voa. Também procurou conversar com outras pessoas que também sofrem de aerofobia e descobriu que cada um tem sua própria estratégia para driblar o medo. Também contou com ajuda médica, de modo a ter um remédio para controlar a ansiedade. Por fim, preparou o marido, para que ele pudesse ajudá-la em momentos de mais difíceis. “Mas pensar em passar horas em cima do oceano, sem nada em volta, é um pouco desesperador”, diz a engenheira — olha só, um ponto em comum com Monica Vasku.

Ela afirma ter gostado de voar pela TAP. E aponta como um dos pontos altos o sistema audiovisual e de entretenimento da aeronave. “A parte de mídia da aeronave é bem legal. O vídeo inicial que fala sobre as recomendações de segurança, eles fazem um paralelo com outros meios de transporte terrestres e ficou bem didático. E tem música, vídeos sobre Portugal e as cidades próximas e muitos filmes. Uma dica que um amigo deu foi: ‘veja filmes que você já conhece e que deixam seu coração quentinho ou que você gosta muito’. Testei e realmente funcionou”, pontua.

 

Foto tirada por Marina em um avião da TAP, durante os procedimentos de aproximação para pouso em Paris

 

Como Marina fez muitas pesquisas antes de fechar a viagem com a TAP, ela diz ter encontrado relatos um pouco animadores. Leu que muitas pessoas reclamavam da tripulação e também que nem todas as aeronaves eram novas. “Eu fiquei bem preocupada. Mas a realidade foi que todos os comissários foram super atenciosos e as aeronaves estavam em ótimas condições (eu peguei quatro voos entre Brasil, Portugal e França). Teve uma comissária que até me explicou como funcionava uma turbulência e que se eu ficasse com muito medo era pra chamar ela”, relata a panicada.

A empresária Denise Rodrigues já trabalhou na TAP, quando a empresa tinha uma sede fixa em Copacabana, no Rio de Janeiro. “Como trabalhei na TAP, voava várias vezes ao ano, para vários destinos. Sempre amei essa companhia. Viajo todos os anos com a ela, do Rio para Lisboa e Bolonha, entre outros destinos. Sou brasileira, mas também tenho cidadania portuguesa, costumo passar de quatro a seis meses do ano por lá”, pontua. Denise diz que sempre confiou muito na seriedade da empresa quando o assunto é segurança dos passageiros.

E para finalizar: as três panicadas contam que saber que a TAP é uma das cinco empresas aéreas mais seguras de 2022 traz um pouco de tranquilidade para um coração com aerofobia. Termino essa matéria com uma fala de Marina: “Não vejo a hora de fazer a próxima, porque viajar é bom demais”.

E quem sou eu pra negar?